.26 de janeiro de 2010.

Um pulo para outro mundo.





Por: Camila Lira

Há quem tenha visto o mulato ligeiro, skatista pé na lixa, olhos atentos desafiando as leis da física, o prazer com base na adrenalina, o vento que toca a face em busca de liberdade, sobre uma pequena prancha de madeira com quatro rodinhas. Evoluiu, e o mundo o reconheceu, patrocínio de grandes marcas, “amigos”, mulheres, baladas, drogas, hip hop e rock’n’roll. E em apenas um pulo, mergulhou em outro mundo...

Sábado cinza e frio, rumo ao extremo Leste de São Paulo, Itaim Paulista. Ao chegar à rua do condomínio logo identificamos sua residência, muros grafitados. Na parede principal, uma tentativa de caricatura de nosso entrevistado, conforme ele: “O brother que fez o graffi, estava bem louco no dia e riscou o Tim Maia” (risos).

Thiago Rodrigues Lima Dias, 26 anos, vulgo Cocó, quando pergunto sobre o apelido, solta uma gargalhada e diz que é devido ao formato de sua cabeça, semelhante a uma crista de galo.
Ao entrar em seu quarto, logo se vê: um skate próximo à porta, shapes em cima do guarda-roupa (tábua de madeira que serve como base do skate) e banner’s de campeonatos em que houve sua participação. A recepção foi com um largo sorriso, deitado em sua cama onde passa maior parte do tempo, assistindo TV e na internet.

Deitado em uma cama? Sim! Cocó é um ex-esportista do skate que logo após um acidente encontra-se tetraplégico devido a uma fratura na coluna, sequela de um socorro inadequado.
Sua família é composta apenas por ele e a mãe, a cujos braços retorna, como um rebento que ela acabara de parir, necessitado de muitos cuidados e atenção.

Obstáculos continuam a ser superados, o manuseio do mouse é tarefa da mão direita que não possui muitos movimentos, boca e o teclado virtual. Quem se comunica com ele através do espaço virtual, não imagina o esforço que faz para permanecer em contato com o mundo.

Logo um momento nostálgico invade o ambiente, narrado através de histórias antigas vividas com amigos, alguns ainda estão presentes em sua vida hoje, outros não.

Após várias histórias, Cocó conta como saiu do anonimato e ganhou o reconhecimento como esportista. Domingo, Agosto de 1998 estava em um campeonato e jamais poderia imaginar que seria o dia em que o reconhecimento chegaria. Abordado por um cara de bermuda e chinelos, desacreditou, mas aquele era o dono da Tracker (fabricante de produtos para skate). Deu crédito àquela situação apenas na segunda-feira quando ligou para o número que estava no cartão que havia recebido, e confirmaram que a pessoa que ele procurava era o dono da marca.

E foi aí que tudo começou... Meio-dia, ônibus Pq. Dom Pedro, o seu destino naquele dia deveria ser apenas um, rua Prof. Aprígio Gonzaga, 238, São Paulo, demorou para achar o local, chegou por volta de 14 horas e já eram 17h50 e nada, subia e descia a rua, quando parou em uma padaria para tomar água e perguntou a um funcionário se sabia onde era a Tracker. E com uma expressão sarcástica o italiano de bigode respondeu: “Aí em frente!”.

Tinha em mente que o local seria uma loja, mas se deparou com uma casa, o que seria a fábrica da Esportes Trucks Tracker. Ao chegar foi bem recebido e se comoveu quando viu em suas mãos o resultado do que escolhera para sua vida: equipamentos que antes mal tinha dinheiro para comprar, agora era de onde provinha o seu sustento.

Tudo era fácil, recebia os equipamentos e roupas e vendia. Amigos, mulheres, drogas e reconhecimento chegaram, como a ladeira perfeita para um praticante de downhill.

O surto inconsequente.

A adrenalina que corria em suas veias o levou ao pico mais alto, rodas deslizando no asfalto, atrito perfeito até o fim, o último dia em que pôde sentir o vento que ensurdece os ouvidos e toca seu rosto, o coração acelerado em cima de um skate, o asfalto cinza decorado com faixas sinalizadoras, que nos deixam em estado de transe, uma a uma, seguindo seu ritmo perfeito, ficando para trás como o tempo.

Abril de 2001, a direção era a festa que ocorria numa chácara em Guaraicica, Guarulhos. No primeiro dia descansou e no segundo, ao chegar da brisa escura da noite, após muita loucura, em uma brincadeira pulou na piscina. Um pulo para outro mundo, toda sua vida em trinta segundos. Apenas a parede do outro lado veio aparará-lo, bateu a cabeça e fraturou a coluna. De imediato o colocaram em um automóvel e levaram-no ao hospital.

Acordado, o peito queimado soube da parada cardíaca, tala no pescoço e não sentia as pernas, achou que era efeitos dos remédios. E como um desfibrilador tocando seu peito, vieram as palavras do médico, estava tetraplégico.

“Não posso culpar ninguém, por estar assim hoje, talvez eu nem tivesse sobrevivido”. Lamenta com palavras engasgadas.

Parou de falar por um instante, olhar fixo no teto branco de seu quarto. Em seguida diz que já enfrentou muitas dificuldades para o local de tratamento, mas acredita na possibilidade de voltar a desfrutar da paisagem urbana. Porque há possibilidade de ele voltar a deslizar sobre rodas de um skate com muita fisioterapia e força vontade.

Todo ser humano é passível de fraquezas, em uma ocasião como essa que a vida lhe prega. E o que motiva Cocó a não desistir é saber que existem pessoas que se importam com ele. Amigos! Hoje ele sabe muito bem quem são os verdadeiros. Porque existem dois momentos quando se passa por uma situação semelhante a esta... O primeiro momento, o princípio, quando todos estão ao redor. E existe a realidade, a atualidade, quando é possível saber quem é amigo de verdade.

Postado Por: Camila Freitas às 23:55:00

2 Comments

Anonymous suh bruxa said...

e ai acessei minha conta e o resto....bjs bebe to de saudades naummm.....axu que vc me deve uma resposta rsrsrssr

4 de fevereiro de 2010 às 22:20  

Anonymous Camila Bononi said...

Ola meninas do MDF. Tudo nos trinks?
Puxa essa é uma story muito comovente, que nos faz pensar como devemos aproveitar a vida, um dia de casa vez e sempre agradeçer ao Senhor Deus por termos saude para encarar os desafios que a vida nos impoe.

bjs garotas e ate+

4 de março de 2010 às 12:38  

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